quarta-feira, 20 de maio de 2009

meu guri



Eu queria, hoje, homenagear um pássaro. Um pássaro de olhar firme e peito erguido. Um pássaro que tem o bater de asas mais seguro que eu já vi na vida (mesmo não tendo um rumo certo). Um pássaro iluminado, que aqui não caberia descrever a minha admiração.

Mas como os pássaros não sabem ler, guardo um pedacinho desse meu amor aqui.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

desembolada ou there is a light that never goes out



Lembro, como se fosse ontem, a primeira vez que a gente se viu. Ela tinha o cabelo liso, brilhante, que passava um pouco dos ombros. A pele era morena e o olhar assustado, mas imponente – olhar de quem não engole desaforo. Ela vestia um shortinho coladinho, mostrando aquelas perninhas magrinhas. Sentada na cadeira, com a perna meio cruzada, ela tirava vantagem de conhecer nossa amiga em comum há mais tempo que eu (as mães haviam feito yoga para grávidas juntas). Sempre achei que ela tinha um raciocínio peculiar. Dizia que estudava em uma escola tão legal, que até a porta de entrada era redonda (e vermelha!), e que eu não podia mudar pra lá porque já estava na terceira série e não valia a pena mudar pra fazer uma série só.
Descobrimos depois, que, nossas famílias eram da mesma cidade – só que ela era MUITO mais que eu, já que seus pais eram ambos de lá (já não nos conhecíamos?). A verdade é que ela não me foi nada simpática. Tudo dela era bom demais pra mim.
Seguimos freqüentando o mesmo grupo de amigos (como vocês duas se parecem!) e a carinha dela me foi ficando mais e mais simpática. Uns quatro anos depois do primeiro encontro, mudamos para o mesmo colégio – eu, dois anos mais velha. Ficamos assustadas com o tamanho daquele lugar e com a forma estranha com que aquelas pessoas se relacionavam. Nos agarramos ao que tínhamos em comum. Éramos ET’s em um mar de ‘smurfs’, andávamos de all-star, vestíamos preto e escutávamos Nirvana (ela, obviamente, escutava MUITO mais que eu). Aos poucos, fui aprendendo a lidar com aquela menininha magrela do ego gordo. Saíamos juntas pela rua, cantando uma versão punk de “you are my sunshine”, freqüentávamos festinhas e morríamos de frio na barriga jogando “verdade ou conseqüência”. Nas férias, íamos pra praia e ficávamos louvando nossa liberdade naquele lugar. Brigávamos e nos odiávamos com todo o ódio disponível no mundo quando ela fazia coisas como ficar com o menino que estava ficando depois que eu tinha ido dormir. Tivemos os pais divorciados com pouco tempo de diferença e nos revoltávamos contra eles e contra o mundo juntas.
Ela me reprimiu quando eu me distanciei, me aconselhou (enfiando conselhos goela abaixo – do jeito dela) e, em um momento muito especial, ficou do meu lado 24 horas. Me ajudou no meu primeiro grande empecilho da vida, me empurrando morro abaixo e dizendo: “coragem, Teka!” – e ela inventou o apelido que menos tem a ver com meu nome, e não abre mão dele.
No meio dessa bagunça da vida descobrimos o mais engraçado, minha bisavó teve minha avó com o tio avô dela! Sim, foi uma pulada de cerca! Sim, existe uma explicação pra toda essa semelhança! O destino não quis deixar a gente escapar mesmo. Pouco tempo depois dessa descoberta fenomenal, ela foi morar do outro lado do mar. Lá, ela vivia emocionada. Lembro do primeiro e-mail: ‘Teka, a Hungria é mais quente que a Bahia!’. Não sei contar quantas vezes em um ano ela me ligou no meio da noite, bêbada – achando aquilo tudo muito natural e dizendo: ‘Szia, Teka, adivinha??! To bêbada!!! Viva palinka!!’. E eu aqui, do outro lado do mar oscilava entre morrer de rir e querer matar. Isso quando ela não passava o telefone pra alguém que definitivamente não falava minha língua.
Um mês antes dela voltar, quem bateu asas fui eu. Aqui, tudo tinha mudado. Eu tentava fazer o drama dela pra ver se ela me dava atenção, mas não adiantava. As coisas do outro lado do mar eram bem mais emocionantes. Tudo bem, eu já engolia os sapos dela há alguns anos. Quando eu voltei (tinha um ano e meio que a gente não se via?), assim que eu e minha mala atravessamos a portinha automática do aeroporto, ouvi alguém correndo e nem precisei imaginar quem era. Tinha virado uma mulher, aquela rata (mas vocês estão cada dia mais parecidas!).
E hoje, que ela está se despedindo dos teens, escrevo aqui, pra falar do meu amor, do meu carinho e da minha paciência com ela (e dela comigo). E pra dizer que eu, como boa altruísta que sou, sigo feliz caminhando ao lado dela e de seu ego.
Szeretlek drága! Now and forever more. Puszi, puszi.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

tanto mar

Alice separa o céu do mar.



As vezes é pequeno de conta-gotas, as vezes é grande de afogar o mar.