terça-feira, 10 de novembro de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

bom conselho

O olho não mirava nada. Aquela conversa era de alma. Ele dizia em agonia: "Não deu certo, né? Ele não aceitou. Mas olha, foge pro mato, pra longe desse homem. Você é moça direita, de futuro, não tem de ficar metida no meio dessas confusões não".
A alma dela cambaleou, querendo não entender.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

bem-querer

Ela tinha decidido, de última hora, ir com a família a um espetáculo de dança. Saiu de lá querendo dançar uma vida, encontrou com o melhor amigo que deus lhe tinha dado, tomou dois chopps falando bobagens e cantando "don´t look back in anger" - coisas que só eles poderiam fazer. Ficou feliz de saber que a vida tinha reservado ele pra ela (pra sempre). Chegou em casa comendo o chocolate que ele havia dado e deitou sem escovar os dentes pra dormir com o gostinho da felicidade.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

desencontro

Aquilo era o que não parecia. E o que era, não aparecia.



(É que as vezes é feio de longe, e se chegar bem de perto a gente entende o que é e fica bonito de encher o coração.)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

fantasia

Ela ficava assim, tentando entender essa vida. Quanto mais a cabeça pensava, mais o peito apertava. E todos os dias ela acordava pensando “tomara que tenha passado”; mas no segundo passo pra longe da cama, lá vinha a danada da agonia, de novo. E, dessa vez, não tinha cachorro-quente que resolvesse, não tinha conversa amiga, nem colo de mãe, não tinha palavra doce de namorado, nadica de nada. Era o bicho que morava dentro dela, que tava crescendo, sem respeitar a casquinha... Aquele bicho, que manda e desmanda, queria mais espaço, queria mais atenção. Queria tudo pra ele, sem dividir com ninguém, queria todas as forças, todas os sentimentos, tudinho voltado pra dentro – pro ego mesmo. E o que é que tava errado, essa história de ser altruísta? O bicho queria que ela deixasse o medo de lado. “Logo o medo?”. Isso, querida, faz o que você quer, sem medo. “Mas e se...?”. Nada disso, o bicho nem queria ouvir. Era um mês arrastado, mês que tudo andava errado, às vezes muito forte, às vezes tão fraco. E ela tava mesmo desistindo da vida. “Se tudo dá no mesmo lugar, hay que luchar?”. A voz do Chico não lhe saía da cabeça: “E se de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge que sente?”. Então ela quis parar e reavaliar tudo aquilo, porque a dor dela, era só dela, afinal. Que culpa tinham os amigos questionadores que quase a matavam de raiva, fazendo o bicho lá de dentro se contorcer? Que culpa tinha o namorado com o seu bicho de dentro todo doido também? Que culpa tinham as avós, de serem inconvenientes? Que culpa tinha a mãe, de estar sempre cansada? Que culpa tinha a irmã e a amiga, de serem sempre tão irritantes? Que culpa tinha, afinal, o resto do mundo, se o bicho crescia era dentro dela? Dessa vez não tinha jeito, não tinha desculpa, não tinha viagem, não tinha briga, não tinha nada. Era ela com ela e ninguém metia a colher. Então ela se rendeu, disse pro bicho "Ok, sou sua. Pode fazer o que quiser" - daí ela chorou, esperneou, gritou, ficou fazendo força na frente do espelho até a cara ficar vermelha e ela ter que respirar rápido, rabiscou as folhas tratadas sempre com tanto cuidado, ficou dias sem olhar pro computador, fez amizade com a vodca - arrependeu amargamente no dia seguinte, ficou sem comer o dia inteiro (e no outro comeu como se nunca tivesse comido na vida), foi ao cinema sozinha, quis ser mais gorda, depois quis ser mais magra, quis e não quis todas as coisas da vida. O bicho de dentro, que não esperava nada disso, tomou um susto de arregalar a alma. Ficou quieto, quase pediu desculpas. Prometeu que ia se comportar, disse que ela provou sim, que era forte, que era guerreira. Agora ela estava, então, em paz.
AH! Vieram então, sorrateiras (como sempre), as palavras de Hermógenes. Nem era isso que ela tava buscando, ela queria só fazer um desenho, só estava procurando um bom modelo. E eis que "Deus me livre de ser normal" aparece de novo, com força total.
Ela então tomou a sua decisão, sim, PAZ, AMOR, PERDÃO e LUZ. Nada de ruim ela queria perto dela, nem desejar, pra ninguém. Mesmo aquelas pessoas, aquelas, que sabem bem quem são. Ela queria contemplar tudo com muito mais amor e harmonia - como tanto era aconselhada, por aquela voz calma de veludo. Era isso, a opção dela estava feita. E tinha um sido um remédio eficaz, ah, tinha sim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

meu guri



Eu queria, hoje, homenagear um pássaro. Um pássaro de olhar firme e peito erguido. Um pássaro que tem o bater de asas mais seguro que eu já vi na vida (mesmo não tendo um rumo certo). Um pássaro iluminado, que aqui não caberia descrever a minha admiração.

Mas como os pássaros não sabem ler, guardo um pedacinho desse meu amor aqui.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

desembolada ou there is a light that never goes out



Lembro, como se fosse ontem, a primeira vez que a gente se viu. Ela tinha o cabelo liso, brilhante, que passava um pouco dos ombros. A pele era morena e o olhar assustado, mas imponente – olhar de quem não engole desaforo. Ela vestia um shortinho coladinho, mostrando aquelas perninhas magrinhas. Sentada na cadeira, com a perna meio cruzada, ela tirava vantagem de conhecer nossa amiga em comum há mais tempo que eu (as mães haviam feito yoga para grávidas juntas). Sempre achei que ela tinha um raciocínio peculiar. Dizia que estudava em uma escola tão legal, que até a porta de entrada era redonda (e vermelha!), e que eu não podia mudar pra lá porque já estava na terceira série e não valia a pena mudar pra fazer uma série só.
Descobrimos depois, que, nossas famílias eram da mesma cidade – só que ela era MUITO mais que eu, já que seus pais eram ambos de lá (já não nos conhecíamos?). A verdade é que ela não me foi nada simpática. Tudo dela era bom demais pra mim.
Seguimos freqüentando o mesmo grupo de amigos (como vocês duas se parecem!) e a carinha dela me foi ficando mais e mais simpática. Uns quatro anos depois do primeiro encontro, mudamos para o mesmo colégio – eu, dois anos mais velha. Ficamos assustadas com o tamanho daquele lugar e com a forma estranha com que aquelas pessoas se relacionavam. Nos agarramos ao que tínhamos em comum. Éramos ET’s em um mar de ‘smurfs’, andávamos de all-star, vestíamos preto e escutávamos Nirvana (ela, obviamente, escutava MUITO mais que eu). Aos poucos, fui aprendendo a lidar com aquela menininha magrela do ego gordo. Saíamos juntas pela rua, cantando uma versão punk de “you are my sunshine”, freqüentávamos festinhas e morríamos de frio na barriga jogando “verdade ou conseqüência”. Nas férias, íamos pra praia e ficávamos louvando nossa liberdade naquele lugar. Brigávamos e nos odiávamos com todo o ódio disponível no mundo quando ela fazia coisas como ficar com o menino que estava ficando depois que eu tinha ido dormir. Tivemos os pais divorciados com pouco tempo de diferença e nos revoltávamos contra eles e contra o mundo juntas.
Ela me reprimiu quando eu me distanciei, me aconselhou (enfiando conselhos goela abaixo – do jeito dela) e, em um momento muito especial, ficou do meu lado 24 horas. Me ajudou no meu primeiro grande empecilho da vida, me empurrando morro abaixo e dizendo: “coragem, Teka!” – e ela inventou o apelido que menos tem a ver com meu nome, e não abre mão dele.
No meio dessa bagunça da vida descobrimos o mais engraçado, minha bisavó teve minha avó com o tio avô dela! Sim, foi uma pulada de cerca! Sim, existe uma explicação pra toda essa semelhança! O destino não quis deixar a gente escapar mesmo. Pouco tempo depois dessa descoberta fenomenal, ela foi morar do outro lado do mar. Lá, ela vivia emocionada. Lembro do primeiro e-mail: ‘Teka, a Hungria é mais quente que a Bahia!’. Não sei contar quantas vezes em um ano ela me ligou no meio da noite, bêbada – achando aquilo tudo muito natural e dizendo: ‘Szia, Teka, adivinha??! To bêbada!!! Viva palinka!!’. E eu aqui, do outro lado do mar oscilava entre morrer de rir e querer matar. Isso quando ela não passava o telefone pra alguém que definitivamente não falava minha língua.
Um mês antes dela voltar, quem bateu asas fui eu. Aqui, tudo tinha mudado. Eu tentava fazer o drama dela pra ver se ela me dava atenção, mas não adiantava. As coisas do outro lado do mar eram bem mais emocionantes. Tudo bem, eu já engolia os sapos dela há alguns anos. Quando eu voltei (tinha um ano e meio que a gente não se via?), assim que eu e minha mala atravessamos a portinha automática do aeroporto, ouvi alguém correndo e nem precisei imaginar quem era. Tinha virado uma mulher, aquela rata (mas vocês estão cada dia mais parecidas!).
E hoje, que ela está se despedindo dos teens, escrevo aqui, pra falar do meu amor, do meu carinho e da minha paciência com ela (e dela comigo). E pra dizer que eu, como boa altruísta que sou, sigo feliz caminhando ao lado dela e de seu ego.
Szeretlek drága! Now and forever more. Puszi, puszi.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

tanto mar

Alice separa o céu do mar.



As vezes é pequeno de conta-gotas, as vezes é grande de afogar o mar.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

agora falando sério



Ah, se me deixam falar! Se me deixam falar eu faço uma viagem pelo Brasil, mostro minha visão do paraíso, eu tento entender a condição da humanidade, eu danço no balanço da bossa, ando três mil milhas, saio em busca de mim mesma, eu reinvento o afeto, eu pós-modernizo, eu caso com o homem e seus símbolos, eu arrumo minha casa de acordo com o feng shui, mergulho num mar de histórias, eu atuo no teatro das sombras, eu piso em chão de ferro, eu ponho a alma no lugar, eu viro muitas noites circenses, eu descubro a magia do caminho, eu conto a idade da razão, eu aprendo a olhar (e ver), eu mudo pra casa verde, eu grito com o corpo, eu diferencio cada laranja do mundo, eu penso como um gênio, eu mergulho em memórias, eu converso com a amendoeira, encontro com homens notáveis, admiro esse mundo novo, como na festa de babette, viro artista da fome (por pura arte), viajo com gulliver, entendo a economia regional, eu medito com os anjos, escuto com calma cada palavra de hermógenes, entendo enfim o enigma do homem. Ah, se me deixam falar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

bicharia ou a verdadeira história do lobo mal

7 de novembro de 1996



Tinha um lobo que estava solto na cidade grande. Este lobo se chamava: Alichandre-lobo.
Um dia Alichandre-lobo foi fazer um bolo para sua avó que faria 104 anos de idade. Quando Alichandre foi ver não tinha açúcar. E ele precisava de açúcar pra fazer o bolo. Então Alichandre-lobo foi pedir açúcar aos vizinhos, no primeiro vizinho a casa era de palha e era de um porquinho. Quando Alichandre-lobo foi pedir uma xícara de açúcar, um pedaço de palha foi no focinho dele e ele deu um espirro assim:
- U-uuuueeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
E destruiu a casa do porquinho toda e o porquinho morreu. O Alichandre-lobo não iria deixar aquela carne apodrecer ali sozinha, então comeu o porquinho. E foi do mesmo jeito com o segundo porquinho, até a parte do espirro foi igual. Só que com o terceiro porquinho foi diferente, porque ele era muito mal-educado e a casa não era de palha, era de tijolo e o lobo não espirrou e ficou sem fazer o bolo porque o terceiro porquinho também não deu o açúcar.

(História retirada do meu caderno da segunda ou terceira série do ensino fundamental, baseada na história do lobo mau e suas variações)

quinta-feira, 26 de março de 2009

divina dama

Fim de 1993 e descobrem o primeiro maior sofrimento da família. Aquela filharada ia ter de seguir vivendo sem os docinhos, as rezas, os encontros e aquele conforto que só as mães oferecem. E foi tudo assim, rápido que nem se viu. Era outubro, as festas já batendo na porta, os netos ansiosos com a chegada do papai Noel, dos presentes e daquele clima de filme de seção da tarde. E ela, especialmente, que esperava o ano todo pelo aniversário, não conseguia entender o desânimo geral com a data mais esperada! Outubro passou arrastado e tristonho. Ela perguntava pelo seu aniversário: “mas mamãe, todos os meus colegas já fizeram 6 anos, todo mundo faz aniversário, menos eu!”. E a mãe respondia: “filhinha, você não entende, a vovó está muito doente, a gente não pode fazer festa agora”. Novembro passou e ela seguia perguntando à mãe: “a gente sempre comemorou meu aniversário em novembro, mãe!”. A mãe já nem queria responder. Chegaram os inadiáveis 6 anos, no último dia de 1993, sem comemoração, sem clima e sem força. “Todo mundo do mundo faz aniversário, menos eu”.
No dia 10 de fevereiro de 1994 a menina acorda sozinha em casa. “Pra onde foi todo mundo?”. Com sua imaginação de menina, ela levanta assustada e vai procurar as escovas de dente dos moradores, achando que tinham todos fugido de casa. E não, eles não tinham fugido. O telefone finalmente toca: “onde você tá, mãããããe?”. A mãe quase sem voz diz: “Minha filha, a vovó foi pro céu”. Ela não entendeu, mas via que a mãe sempre chorava, deitada na cama, com lagriminhas discretas de mãe. O tempo passava, a menina insistiu tanto na festa que assim que teve forças a mãe decidiu fazer. A menina ficou alegre, e a festa em março deu uma levantada no astral da família. O ano foi passando, e surgiu um outro dilema na vidinha de criança da menina. Como ela ia fazer 7 anos se tinha acabado de fazer 6? O jeito foi fazer outra festa intrigando os coleginhas por fazer 2 anos em um só e arrumar mais um motivo pra família se unir e seguir sempre junta.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

a moça do sonho



Um sorriso daqueles assim, de desatar o mais apertado dos nós. Aquele que ri e nem entende de que. Só ri, porque é bom assim. Naquela pureza de nem ser, só estar.

And we know what is gonna last forever. Welcome home, sweetie.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

a voz do dono e o dono da voz

O coração dela estava aprontando um desassossego danado. E ela dizia pra ele: acalma coração, que não adianta ficar assim. De tudo ela já tinha tentado fazer, leu, escreveu, desenhou, saiu, voltou, comeu. Sossega, trem, o que é que você quer afinal?

E o coração dela respondeu, apertadinho que só ele:
Queria uma luz calma, uma música calma, uma vida calma. Queria ter algo para oferecer. Ter mais segurança e mais perspectiva. Queria seguir em frente, com toda a energia do mundo. E aí sim.

Aí eu quero cachorro-quente com bastante molho, quero o caminho cidade-praia com as boas e velhas amigas, quero o aconchego do colo da mãe, e até as palavras (tantas vezes) secas da irmã. Quero aquela risada gostosa de jogar o cabelo pra trás, quero desenho no fim dos cadernos, quero aquele sono leve com aquele sonho gostoso, quero aquele livro que a gente lê até almoçando, quero aquelas danças loucas com a amiga mais animada. Quero miojo e brigadeiro com a amiga que tem até que fazer vaca amarela pra conseguir dormir. Quero cantar alto aquela música do Los Hermanos só pra ouvir ela gritando a letra certa naquela casa vazia e fazendo todos os pernilongos voarem. Quero a voltinha que ele faz com a pernas ao som do Elvis, quero as músicas improvisadas no violão. Quero as conversas-borracha (nos dois sentidos) com a melhor amiga virtual, quero pegar o cachorro bafento e apertar até que ele faça aqueles tão conhecidos grunhidos e fuja de mim correndo. Quero beijos calmos e abraços apertados, quero vinho na beira da fonte mal iluminada, quero jantares apimentados de comida estranha. Quero fotos coloridas ao som da bossa nova. Quero Almodóvar, Frida Kahlo e Van Gogh, quero Chico, Elis, Edu e Tom.

Talvez num tempo da delicadeza.